"Eu tenho um dom de causar conseqüências/ Um ar de criar evidências/ Um sapato novo no lixo/ Vem cá, vem me lembrar" - (Sérgio Sampaio)
Viajei de trem sentado em uma das cadeiras do teatro Rubem Braga na noite desta segunda-feira. Até outro dia estava com poucas esperanças que Cachoeiro de Itapemirim faria uma homenagem póstuma, a altura, ao compositor e cantor Sérgio Sampaio. Em nome de Deus, tudo ocorreu de forma a surpreender quaisquer expectativas.
Diante da quase desesperança de um tributo, tolo fui eu em pensar assim. Homem de trinta, de quarenta, sessenta anos. Jovens, intelectuais, artistas, hippies, todos numa só sintonia ouvindo a doce melodia daquele que um dia botou seu bloco na rua.
Que magia pura foi aquela que eu não soube mais como dormir. Primeiro uma ótima apresentação do grupo de teatro do centro universitário São Camilo. Depois, o vídeo com imagens de Sérgio. Chocante e emocionante.
Não cale, mas cante Zebedeu! E assim ele o fez. Não só cantou como encantou a todos os presentes e também àqueles que não puderam ir. Que loucura. A banda do espetáculo Tangos e outras delícias - um Tributo a Sérgio Sampaio" é de tirar o chapéu.
Cada lugar na sua coisa: os solos, as bases, o vocal, a letra, tudo na terra onde nasceu Sampaio, ecoando dentro do local que leva o nome do nosso mais célebre cronista. Uma chuva fina tocava o asfalto da cidade e o vento a levava muito além do jardim. E a canção do maldito massageava o coração de quem é do amor.
A peça teatral fechou com o personagem, que interpretou Sérgio, dizendo que o resultado de sua obra viria assim que se fechasse para balanço. E foi desse jeito. Quem conhecia a obra de Sampaio, vibrou; quem desconhecia, se vislumbrou.
Não sou aquele que disse. Era evidente um pedaço de emoção nos labirintos negros dos olhos de cada espectador. Maiúsculo, também, foi Hélio Sampaio - irmão do homenageado - que não sabia o que fazer com tantas recordações. Sentava, levantava, cantava e soltava adjetivos acorrentados por neurônios na cabeça de alguns, que, logo, viam suas palavras imaginárias anistiadas.
Sinceramente, a cantora cachoeirense Amélia também deu um show à parte. Provocou terremotos no tecido dos braços de muitos ao interpretar, com delicadeza, a canção Real Beleza. O mais novo orgulho cultural de Cachoeiro, não adianta. Aroldo Sampaio também foi cruel, de posse do violão, ao tocar Viajei de Trem.
Enfim, repito que tem que acontecer mais eventos do tipo. Enquanto a esse, parabenizo o produtor e músico João Moraes, responsável pelo espetáculo e pelo livro "Eu Sou Aquele que Disse", e ao secretário de Cultura, José Carlos Dias, que abraçou a idéia.
Não posso deixar de registrar que a segunda-feira seria perfeita caso não tivesse ocorrido o falecimento do biógrafo Marco Antonio de Carvalho. Uma notícia que entristeceu a muitos cachoeirenses. Marco finalizava a biografia de Rubem Braga e produziria a 2ª Bienal, marcada para maio de 2008.
Um comentário:
esse, você sabe, é meu predileto.
criatividade e informação no memo texto. Gostei Muito!
abração cara
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