sábado, 10 de maio de 2008

Um peso dividido pelo o olhar



“Uma canção pelo ar/ Uma mulher a cantar/ Uma cidade a cantar/ A sorrir, a cantar, a pedir/ A beleza de amar/ Como o sol/ Como a flor, como a luz/ Amar sem mentir, nem sofrer/ Existiria verdade/ Verdade que ninguém vê/ Se todos fossem no mundo iguais a você” (Tom Jobim)

Recebi uma mensagem virtual de uma pessoa muito próxima que estava meio sobrecarregada com esses ‘probleminhas’ que a vida insiste em pôr em nossos caminhos. Certamente, assim como todos nós, ela devia ter muitos outros contratempos. O recado me deixou muito lisonjeado. Afinal, ela havia me escolhido o seu conselheiro para aquela situação. E ficamos de combinar um dia para se encontrar e colocar o papo na mesa, assim como os demais ingredientes (gelados) para ocasiões do tipo.

Até o encontro, houve um intervalo de uns quatro ou cinco dias. E cada um desses dias, embora minha cabeça também funcionasse para outros assuntos, me faziam refletir sobre a minha responsabilidade. Certo que não sou nenhum guru, nem que ela faria exatamente o que eu dissesse. Mas, eu tinha que emitir algo positivo, sem esbarrar, o mínimo, em nenhuma ferida, e muito menos cair na obviedade popular.

As horas do segundo dia iam passando, e tudo se transformava numa pré-frustração. Lembrei que não adiantava pensar no que dizer, pois eu nem imaginava o que ela ia me falar. Ou seja, o seu sofrimento se igualava ou acabara de ser ultrapassado pela minha mais nova aflição.

Foi duro esperar os outros dias. Não só por mim. A morosidade do tempo transformara duas pessoas em crianças submissas a um castigo de madrasta. Sabe. Queria que o dia chegasse logo. É uma pessoa muito especial, e nunca me furtaria em ajuda-la. Se não me viessem palavras, ficaria ali, ao seu lado, exalando música e poesia - sem voz e sem violão.

Faltaram os fogos quando a tão esperada noite de sexta-feira caiu. Seria cômico, se não viesse a ser trágico. Inventei de tirar uma cesta e quase embalei pela manhã de sábado. Acordei no susto, graças ao Ser Maior. Enfim. Tomei um banho, me vesti – sem a dúvida de Noel Rosa antes de ir ao samba a que foste convidado – e segui em direção ao meu encontro.

Apesar dela ser linda, e merecer a suavidade da nuvem após os dias de temporal e a vitamina pura do primeiro momento do sol, não foi um encontro romântico. Era um contato íntimo de amigos – e há quem não acredite nisso. Tão era, que mais pessoas compartilhavam o mesmo espaço, cada um com seus respectivos copos.

Fui recepcionado com seu sorriso, que logo atiçou o meu. No início, foram muitos olhares e assuntos aleatórios, diante do que tínhamos para conversar. Pelo menos, eu pensava assim, uma vez que não sabia do se tratava exatamente. O seu olhar que foi entregando os pontos, enquanto sua boca tentava desobedecer aos comandos do coração.

Meu olhar conseguiu ultrapassar o horizonte dos olhos dela, ao mesmo tempo que me sentia carinhosamente invadido. Pude ver um mar manso de lágrimas e um sol muito esperançoso fazendo preces para bronzear uma felicidade ou um amor que seja. Essa troca de olhares, aos poucos, aliviava a minha já antiga aflição e, imaginava, o seu sofrimento.

Ficamos todos ali por algumas horas. Muitas histórias, sorrisos e tudo mais que podemos exaltar entre as paredes de um boteco. Ela me contou o que lhe atormentava. Conversamos, trocamos idéias e conselhos. Porém, me pediu segredo. Assim como, por amor, protejo seu nome nesse texto, com um codinome... sem codinome.

A minha aflição terminou. O seu sofrimento, talvez, dure um pouquinho mais. Até que tudo se resolva ou se resolva. Ela sabe pensar positivo. Nem contei pra ela. Mas, próximo ao mar, havia uma alma com a mesma fé que o sol, pronta para receber tudo o que Deus prepara para uma de suas mais lindas criações.

Um comentário:

Milla - Flor disse...

Eu disse, certa vez, que você possuia uma enorme afinidade com as palavras...
Hoje não acho que seja só afinidade...é algo além...
Grande beijo meu amigo!!!