Desde jovem já surpreendia todos os meus inimigos. Invejosos. Por não reconhecerem minha majestade, hoje, são assumidamente minhas presas fáceis. Não importa tamanho e por qual topografia acidentada eles correm. Ofereço 30 metros de distância. Não perco viagem. Desfaço a vida com o que sustenta minhas garras. Escorre sangue entre meus dentes. Vejo pavor nos olhos daqueles que, por mim, não foram escolhidos.
Uma hora e meia de sono. Margeando a luz da lua, saí à procura. Parecia um surto. É sério. Um rei vagando em meio ao próprio desgoverno. Mantive a cabeça erguida, para não cair no sem fim de minha inconsciência.
Os primeiros bichos foram saindo de suas manjadas tocas. Ameacei acometer. Fui travado. Não era o que eu procurava. Outros animais apareceram. Eram grandes, saborosos. Tinha que ser aqueles que eu queria. O cheiro deles invadiu meu instinto, que nem se atiçou. Eles se distanciaram e sumiram do horizonte de meus olhos.
Com saudade da terra, o sol tomou o lugar da lua. E me flagrou andando, com um suor jamais causado pelos leves raios matinais. A insanidade rotulou meu semblante. Chega! É Deus no céu; e eu na selva! Um rei não pode ter dúvidas, muito menos indefinições diante do inexistente. Resolvi reduzir a população local.
Foi quando vi algo anormal. Eu acabara de rasgar um filhote de búfalo. A poeira baixou. Caminhei lentamente, sentei-me. Não houve a reciprocidade de olhar. Completamente ignorado. Senti sede, fome, receio, baque, uma abstinência viril de coragem. Sabia que retornaria a vagar sozinho, a demarcar território. Mas, só quando fosse libertado das garras daquela formosa leoa.
Um comentário:
Posso dizer que essa é uma das mais belas q já escreveu!Nunca deixe esse dom das palavras se apagar em vc!
bj wal
Postar um comentário