Ando em paz.
Penso em paz.
Ajo em paz.
Calo-me em paz.
Sei que jaz a guerra tola.
Que de uma papoula expande o pensamento,
Para não ter que jorrar lágrimas à toa
no solo infértil, como um sangramento
Tenho os joelhos no chão
Até quando vôo alto por céus desconhecidos
Caminho em forma de devoção
Manifestando meus sentimentos agradecidos
Peço a Ti a libertação
De tudo e de quem me acorrenta
Vejo em Teus olhos a força do Leão
E com seu rugir o inimigo se afugenta.
Nem sabe a ciência, a sustentação da fé
Em meio ao infinito diz ver Tua vigília
No exercício da vida não imagina como é
Não se preocupa com a cura de Emília
Quando sem recheio o bolso de Bernabé
Morte em paz, aguardando a reunião da família
Rezo em paz
Peço em paz
Agradeço em paz
A benção!
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Quando um rei perde o trono
Fui obrigado a suspender a caça. Não acreditava no que via. Debrucei-me ao chão, em meio ao mato. Não queria alertar a natureza móvel com a minha presença. Assim como as plantas tremulavam com o vento, minha juba parecia nuvens impacientes. Meu peito era um caldeirão efervescente. Minhas patas sentiam um tremor de terra. A única coisa imóvel em mim era os olhos.
Desde jovem já surpreendia todos os meus inimigos. Invejosos. Por não reconhecerem minha majestade, hoje, são assumidamente minhas presas fáceis. Não importa tamanho e por qual topografia acidentada eles correm. Ofereço 30 metros de distância. Não perco viagem. Desfaço a vida com o que sustenta minhas garras. Escorre sangue entre meus dentes. Vejo pavor nos olhos daqueles que, por mim, não foram escolhidos.
Uma hora e meia de sono. Margeando a luz da lua, saí à procura. Parecia um surto. É sério. Um rei vagando em meio ao próprio desgoverno. Mantive a cabeça erguida, para não cair no sem fim de minha inconsciência.
Os primeiros bichos foram saindo de suas manjadas tocas. Ameacei acometer. Fui travado. Não era o que eu procurava. Outros animais apareceram. Eram grandes, saborosos. Tinha que ser aqueles que eu queria. O cheiro deles invadiu meu instinto, que nem se atiçou. Eles se distanciaram e sumiram do horizonte de meus olhos.
Com saudade da terra, o sol tomou o lugar da lua. E me flagrou andando, com um suor jamais causado pelos leves raios matinais. A insanidade rotulou meu semblante. Chega! É Deus no céu; e eu na selva! Um rei não pode ter dúvidas, muito menos indefinições diante do inexistente. Resolvi reduzir a população local.
Foi quando vi algo anormal. Eu acabara de rasgar um filhote de búfalo. A poeira baixou. Caminhei lentamente, sentei-me. Não houve a reciprocidade de olhar. Completamente ignorado. Senti sede, fome, receio, baque, uma abstinência viril de coragem. Sabia que retornaria a vagar sozinho, a demarcar território. Mas, só quando fosse libertado das garras daquela formosa leoa.
quarta-feira, 14 de maio de 2008
Amor de sol
Crer no sol é diferente que crer em um amor
O sol não promete, nem anuncia te iluminar logo mais;
Embora todos saibam que ele retornará
O sol não promete, nem anuncia te iluminar logo mais;
Embora todos saibam que ele retornará
É um reencontro certo. Ainda com a incerteza da data
Encaramos a noite, os tempos nublados, a madrugada,
As tempestades e, até mesmo, os dias tristes trancados no quarto
Porém, sabemos que o sol está em algum lugar
A esperar, em movimento, o breve eternizar no altar de nossas vidas
O amor, não.
Diz e afirma. Fica mudo e ironiza,
O início divulgado a dois de uma família.
Anuncia outra linha - algo que transpira fora de minhas células.
No entanto, minha guia
Afirmou minha adesão e fundição
E, por assim, serei
Forte, intenso e sincero como o sol.
Caso queire...
O amor que se debruce em qualquer solo
para tentar sentir e se marcar
com os raios que me caem pelo cansaço de amar.
sábado, 10 de maio de 2008
Um peso dividido pelo o olhar
“Uma canção pelo ar/ Uma mulher a cantar/ Uma cidade a cantar/ A sorrir, a cantar, a pedir/ A beleza de amar/ Como o sol/ Como a flor, como a luz/ Amar sem mentir, nem sofrer/ Existiria verdade/ Verdade que ninguém vê/ Se todos fossem no mundo iguais a você” (Tom Jobim)
Recebi uma mensagem virtual de uma pessoa muito próxima que estava meio sobrecarregada com esses ‘probleminhas’ que a vida insiste em pôr em nossos caminhos. Certamente, assim como todos nós, ela devia ter muitos outros contratempos. O recado me deixou muito lisonjeado. Afinal, ela havia me escolhido o seu conselheiro para aquela situação. E ficamos de combinar um dia para se encontrar e colocar o papo na mesa, assim como os demais ingredientes (gelados) para ocasiões do tipo.
Até o encontro, houve um intervalo de uns quatro ou cinco dias. E cada um desses dias, embora minha cabeça também funcionasse para outros assuntos, me faziam refletir sobre a minha responsabilidade. Certo que não sou nenhum guru, nem que ela faria exatamente o que eu dissesse. Mas, eu tinha que emitir algo positivo, sem esbarrar, o mínimo, em nenhuma ferida, e muito menos cair na obviedade popular.
As horas do segundo dia iam passando, e tudo se transformava numa pré-frustração. Lembrei que não adiantava pensar no que dizer, pois eu nem imaginava o que ela ia me falar. Ou seja, o seu sofrimento se igualava ou acabara de ser ultrapassado pela minha mais nova aflição.
Foi duro esperar os outros dias. Não só por mim. A morosidade do tempo transformara duas pessoas em crianças submissas a um castigo de madrasta. Sabe. Queria que o dia chegasse logo. É uma pessoa muito especial, e nunca me furtaria em ajuda-la. Se não me viessem palavras, ficaria ali, ao seu lado, exalando música e poesia - sem voz e sem violão.
Faltaram os fogos quando a tão esperada noite de sexta-feira caiu. Seria cômico, se não viesse a ser trágico. Inventei de tirar uma cesta e quase embalei pela manhã de sábado. Acordei no susto, graças ao Ser Maior. Enfim. Tomei um banho, me vesti – sem a dúvida de Noel Rosa antes de ir ao samba a que foste convidado – e segui em direção ao meu encontro.
Apesar dela ser linda, e merecer a suavidade da nuvem após os dias de temporal e a vitamina pura do primeiro momento do sol, não foi um encontro romântico. Era um contato íntimo de amigos – e há quem não acredite nisso. Tão era, que mais pessoas compartilhavam o mesmo espaço, cada um com seus respectivos copos.
Fui recepcionado com seu sorriso, que logo atiçou o meu. No início, foram muitos olhares e assuntos aleatórios, diante do que tínhamos para conversar. Pelo menos, eu pensava assim, uma vez que não sabia do se tratava exatamente. O seu olhar que foi entregando os pontos, enquanto sua boca tentava desobedecer aos comandos do coração.
Meu olhar conseguiu ultrapassar o horizonte dos olhos dela, ao mesmo tempo que me sentia carinhosamente invadido. Pude ver um mar manso de lágrimas e um sol muito esperançoso fazendo preces para bronzear uma felicidade ou um amor que seja. Essa troca de olhares, aos poucos, aliviava a minha já antiga aflição e, imaginava, o seu sofrimento.
Ficamos todos ali por algumas horas. Muitas histórias, sorrisos e tudo mais que podemos exaltar entre as paredes de um boteco. Ela me contou o que lhe atormentava. Conversamos, trocamos idéias e conselhos. Porém, me pediu segredo. Assim como, por amor, protejo seu nome nesse texto, com um codinome... sem codinome.
A minha aflição terminou. O seu sofrimento, talvez, dure um pouquinho mais. Até que tudo se resolva ou se resolva. Ela sabe pensar positivo. Nem contei pra ela. Mas, próximo ao mar, havia uma alma com a mesma fé que o sol, pronta para receber tudo o que Deus prepara para uma de suas mais lindas criações.
Contas da vida
“Você hoje pra mim é a faixa seis/ Do lado B/ Do meu último LP/ Aquela que o programador do rádio nunca toca/ Aquela que o divulgador do disco evita/ Aquela que fica espremida entre a quinta/ A quinta faixa e o final da fita” (Faixa Seis – Sérgio Sampaio)
Confissão com simplicidade. Foi o que presenciei hoje. Antes, percorri uns três lugares para pagar essas contas, que afirmam que a vida tem preço. Foi exatamente no último local que retratei a idéia dessa tentativa de crônica. Estava eu em uma fila, consideravelmente, grande. À minha espera, além de vários, tinha um senhor com mais de 80 anos. Um jovem. Falante. Brincalhão.
Isso foi o que captei. Esse senhor brincou com algumas pessoas ao redor. Porém nem todas percebiam – não sei se não ouviam o que ele dizia ou se não se importavam com ele. Enfim, me divertir gradativamente com ele. Nossa! Eram piadinhas infantis, do tipo de fazer rimas com a última palavra que os outros diziam.
Eu olhava para os lados e ninguém, da farmácia onde recebia o pagamento de contas, prestava atenção no que ele dizia. Me encantei com aquele senhor, de semblante cansado, e que me confessara que não suportava ficar por muito tempo em pé. Não havia assentos.
E ficamos por uns 15 minutos. Ali. Na espera de chegar ao caixa e conversando sobre a vida, nos intervalos de suas piadas coletivas – quase em vão. Às vezes, chegava a doer meu peito por causa da pecada preocupação. Acontece que esse senhor silenciava-se e seguia a um lugar desocupado. Sem cerimônias, descansava o braço sobre uma alta superfície e debruçava sua cabeça, posteriormente.
Esses segundos eram temíveis. Ele repetiu a cena por, no mínimo, três vezes. Sem opção, eu pensava até no pior. Aquele senhor, já meu amigo, se perdia no rito normal da vida diante da única pessoa que se importava com ele naquele momento: eu.
Numa de suas voltas, após as idas angustiantes, ele confessou que tinha mais de três filhos e que nenhum poderia fazer essas obrigações de pagar as contas. Não por desconsideração, mas porque todos moravam em algum lugar do planeta, distante dele.
Piadas eram para todos; no silêncio me revelou sobre a existência centenária de sua madrasta. E até disse que ela, na idade dele, era muito mais forte e vigorosa. Atualmente, baseado no dia do pagamento dessas contas, ela estava internada – praticamente com um pé no céu.
Ainda assim, ele não demonstrava tristeza. Mas, muito cansaço. Em poucos segundos, analisei que ele tinha uma fadiga de um século a mais em relação à mãe dele quando tinha sua idade. Talvez, sejam os enlatados e instantâneos que consumimos. Sei lá. Porém, ele sustentava muita pujança em suas palavras.
Poderia ser um tédio para mim ter que ficar naquela fila. Já que toda fila é insuportável. Só que não. Foi mais um aprendizado de como envelhecer com maestria. E ser um jovem com os pés no infinito.
Ao se aproximar do caixa, o convidei para tomar a minha frente. Nada grandioso, apenas cumpri com minha obrigação. Outra piada não foi reservada. “Antes, apenas a Escelsa recebia conta de luz. Depois os bancos começaram a receber também. Hoje, estou pagando na farmácia. Em breve, até eu estarei recebendo”.
Chegando na atendente, outra piada. Dessa vez, ele conseguiu arrancar sorrisos de outra pessoa, sem ser eu. A morena do caixa libertou sua alegria por entre os lábios ao ouvi-lo. E não poupou comentários, sustentando as anedotas de pequenas coisas da vida contadas por aquele jovem senhor.
Cheio de felicidade, mesclada ao visível cansaço, ele se despediu. Ainda tinha outros compromissos a cumprir. “Até lá!”. Para mim ficou o ensinamento que as maiores dificuldades da vida são criadas pela gente mesmo. Já bastam os problemas fixos, indesviáveis, tipo: as contas para pagar.
Confissão com simplicidade. Foi o que presenciei hoje. Antes, percorri uns três lugares para pagar essas contas, que afirmam que a vida tem preço. Foi exatamente no último local que retratei a idéia dessa tentativa de crônica. Estava eu em uma fila, consideravelmente, grande. À minha espera, além de vários, tinha um senhor com mais de 80 anos. Um jovem. Falante. Brincalhão.
Isso foi o que captei. Esse senhor brincou com algumas pessoas ao redor. Porém nem todas percebiam – não sei se não ouviam o que ele dizia ou se não se importavam com ele. Enfim, me divertir gradativamente com ele. Nossa! Eram piadinhas infantis, do tipo de fazer rimas com a última palavra que os outros diziam.
Eu olhava para os lados e ninguém, da farmácia onde recebia o pagamento de contas, prestava atenção no que ele dizia. Me encantei com aquele senhor, de semblante cansado, e que me confessara que não suportava ficar por muito tempo em pé. Não havia assentos.
E ficamos por uns 15 minutos. Ali. Na espera de chegar ao caixa e conversando sobre a vida, nos intervalos de suas piadas coletivas – quase em vão. Às vezes, chegava a doer meu peito por causa da pecada preocupação. Acontece que esse senhor silenciava-se e seguia a um lugar desocupado. Sem cerimônias, descansava o braço sobre uma alta superfície e debruçava sua cabeça, posteriormente.
Esses segundos eram temíveis. Ele repetiu a cena por, no mínimo, três vezes. Sem opção, eu pensava até no pior. Aquele senhor, já meu amigo, se perdia no rito normal da vida diante da única pessoa que se importava com ele naquele momento: eu.
Numa de suas voltas, após as idas angustiantes, ele confessou que tinha mais de três filhos e que nenhum poderia fazer essas obrigações de pagar as contas. Não por desconsideração, mas porque todos moravam em algum lugar do planeta, distante dele.
Piadas eram para todos; no silêncio me revelou sobre a existência centenária de sua madrasta. E até disse que ela, na idade dele, era muito mais forte e vigorosa. Atualmente, baseado no dia do pagamento dessas contas, ela estava internada – praticamente com um pé no céu.
Ainda assim, ele não demonstrava tristeza. Mas, muito cansaço. Em poucos segundos, analisei que ele tinha uma fadiga de um século a mais em relação à mãe dele quando tinha sua idade. Talvez, sejam os enlatados e instantâneos que consumimos. Sei lá. Porém, ele sustentava muita pujança em suas palavras.
Poderia ser um tédio para mim ter que ficar naquela fila. Já que toda fila é insuportável. Só que não. Foi mais um aprendizado de como envelhecer com maestria. E ser um jovem com os pés no infinito.
Ao se aproximar do caixa, o convidei para tomar a minha frente. Nada grandioso, apenas cumpri com minha obrigação. Outra piada não foi reservada. “Antes, apenas a Escelsa recebia conta de luz. Depois os bancos começaram a receber também. Hoje, estou pagando na farmácia. Em breve, até eu estarei recebendo”.
Chegando na atendente, outra piada. Dessa vez, ele conseguiu arrancar sorrisos de outra pessoa, sem ser eu. A morena do caixa libertou sua alegria por entre os lábios ao ouvi-lo. E não poupou comentários, sustentando as anedotas de pequenas coisas da vida contadas por aquele jovem senhor.
Cheio de felicidade, mesclada ao visível cansaço, ele se despediu. Ainda tinha outros compromissos a cumprir. “Até lá!”. Para mim ficou o ensinamento que as maiores dificuldades da vida são criadas pela gente mesmo. Já bastam os problemas fixos, indesviáveis, tipo: as contas para pagar.
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Fácil
Muito fácil desistir
Deixar pra lá a dor
Que anuncia a chegada
Ser livre de impacto
E o coração bater suave
Deixar pra lá a dor
Que anuncia a chegada
Ser livre de impacto
E o coração bater suave
Tranqüilo não esperar amor
Ainda mais quando se ama
Ainda mais quando se ama
Ver morrer uma árvore
Que nunca teria regadores
Que nunca teria um céu
Nem chuva, nem sol
Nem flores, nem frutos
Que nunca teria regadores
Que nunca teria um céu
Nem chuva, nem sol
Nem flores, nem frutos
Muito fácil não sofrer
Mais ainda não viver
Mais ainda não viver
Por onde ir?
As paisagens são lindas pelos diversos lugares por onde passo. Sei que pode muito bem ser uma benção de Jah, em querer amenizar minhas dores e abafar meu estresse. Mas, na verdade, os caminhos de opção são no momento favoráveis para qualquer peripécia.
Não sei porque insisto no caminho que trilho. Não me canso de abri-lo com o peito, que já apresenta carne viva, e arrancar as pedras a cada violenta canelada. Sem contar que todos os dias espero o sol nascer, assim como a lua gloriosa nas noites de contemplação à loucura, que mantém todo o alicerce de minha vida.
Às vezes, não acredito. Mas, a verdade é que os dias permanecem nublados. Até oferecem condições para sair de casa e tomar uma cerveja e outras ‘coisitas más’, nada a mais. Amo o que faço e o que conquistei. Não traço metas à toa, ainda mais agora que resolvi traça-las.
Se comecei, é para ir até o inexistente fim. A expectativa é que haja a reciprocidade. Se não houver, carrego a construção com unhas e dentes e ergo o tempo em seu espaço. De acordo com o bem comum da dupla cigana.
Apego
Deus não me dá a imunidade. A ponto de deixar meu coração por minha conta, sob meu controle. Me deixa no pulsar desse romantismo chato que não pára de me ritmar. Cheguei a doma-lo. Até a situação se inverter. Sempre assim. Ai de mim se não fosse meus truques para levar à tona meus prazeres, para compensar possíveis sofrimentos.
Bossa Nova na alma, sofrimento na pele. Não há como fugir. Não há quilombos a vista. Apenas malfeitores tentando construir um mundo que nunca viram. Mulheres sugando um amor rarefeito. Castigando a si mesmas e escravizando os órfãos de sentimentos sãos. Sou o meu Zumbi, meu guerreiro. Ainda me libertarei dessas correntes arteriais que me prendem às feudais de olhos azuis.
Sérgio Sampaio para sempre
(Publicado no dia 27/6/2007, no site www.atenasnoticias.com.br)
"Eu tenho um dom de causar conseqüências/ Um ar de criar evidências/ Um sapato novo no lixo/ Vem cá, vem me lembrar" - (Sérgio Sampaio)
Viajei de trem sentado em uma das cadeiras do teatro Rubem Braga na noite desta segunda-feira. Até outro dia estava com poucas esperanças que Cachoeiro de Itapemirim faria uma homenagem póstuma, a altura, ao compositor e cantor Sérgio Sampaio. Em nome de Deus, tudo ocorreu de forma a surpreender quaisquer expectativas.
Diante da quase desesperança de um tributo, tolo fui eu em pensar assim. Homem de trinta, de quarenta, sessenta anos. Jovens, intelectuais, artistas, hippies, todos numa só sintonia ouvindo a doce melodia daquele que um dia botou seu bloco na rua.
Que magia pura foi aquela que eu não soube mais como dormir. Primeiro uma ótima apresentação do grupo de teatro do centro universitário São Camilo. Depois, o vídeo com imagens de Sérgio. Chocante e emocionante.
Não cale, mas cante Zebedeu! E assim ele o fez. Não só cantou como encantou a todos os presentes e também àqueles que não puderam ir. Que loucura. A banda do espetáculo Tangos e outras delícias - um Tributo a Sérgio Sampaio" é de tirar o chapéu.
Cada lugar na sua coisa: os solos, as bases, o vocal, a letra, tudo na terra onde nasceu Sampaio, ecoando dentro do local que leva o nome do nosso mais célebre cronista. Uma chuva fina tocava o asfalto da cidade e o vento a levava muito além do jardim. E a canção do maldito massageava o coração de quem é do amor.
A peça teatral fechou com o personagem, que interpretou Sérgio, dizendo que o resultado de sua obra viria assim que se fechasse para balanço. E foi desse jeito. Quem conhecia a obra de Sampaio, vibrou; quem desconhecia, se vislumbrou.
Não sou aquele que disse. Era evidente um pedaço de emoção nos labirintos negros dos olhos de cada espectador. Maiúsculo, também, foi Hélio Sampaio - irmão do homenageado - que não sabia o que fazer com tantas recordações. Sentava, levantava, cantava e soltava adjetivos acorrentados por neurônios na cabeça de alguns, que, logo, viam suas palavras imaginárias anistiadas.
Sinceramente, a cantora cachoeirense Amélia também deu um show à parte. Provocou terremotos no tecido dos braços de muitos ao interpretar, com delicadeza, a canção Real Beleza. O mais novo orgulho cultural de Cachoeiro, não adianta. Aroldo Sampaio também foi cruel, de posse do violão, ao tocar Viajei de Trem.
Enfim, repito que tem que acontecer mais eventos do tipo. Enquanto a esse, parabenizo o produtor e músico João Moraes, responsável pelo espetáculo e pelo livro "Eu Sou Aquele que Disse", e ao secretário de Cultura, José Carlos Dias, que abraçou a idéia.
Não posso deixar de registrar que a segunda-feira seria perfeita caso não tivesse ocorrido o falecimento do biógrafo Marco Antonio de Carvalho. Uma notícia que entristeceu a muitos cachoeirenses. Marco finalizava a biografia de Rubem Braga e produziria a 2ª Bienal, marcada para maio de 2008.
"Eu tenho um dom de causar conseqüências/ Um ar de criar evidências/ Um sapato novo no lixo/ Vem cá, vem me lembrar" - (Sérgio Sampaio)
Viajei de trem sentado em uma das cadeiras do teatro Rubem Braga na noite desta segunda-feira. Até outro dia estava com poucas esperanças que Cachoeiro de Itapemirim faria uma homenagem póstuma, a altura, ao compositor e cantor Sérgio Sampaio. Em nome de Deus, tudo ocorreu de forma a surpreender quaisquer expectativas.
Diante da quase desesperança de um tributo, tolo fui eu em pensar assim. Homem de trinta, de quarenta, sessenta anos. Jovens, intelectuais, artistas, hippies, todos numa só sintonia ouvindo a doce melodia daquele que um dia botou seu bloco na rua.
Que magia pura foi aquela que eu não soube mais como dormir. Primeiro uma ótima apresentação do grupo de teatro do centro universitário São Camilo. Depois, o vídeo com imagens de Sérgio. Chocante e emocionante.
Não cale, mas cante Zebedeu! E assim ele o fez. Não só cantou como encantou a todos os presentes e também àqueles que não puderam ir. Que loucura. A banda do espetáculo Tangos e outras delícias - um Tributo a Sérgio Sampaio" é de tirar o chapéu.
Cada lugar na sua coisa: os solos, as bases, o vocal, a letra, tudo na terra onde nasceu Sampaio, ecoando dentro do local que leva o nome do nosso mais célebre cronista. Uma chuva fina tocava o asfalto da cidade e o vento a levava muito além do jardim. E a canção do maldito massageava o coração de quem é do amor.
A peça teatral fechou com o personagem, que interpretou Sérgio, dizendo que o resultado de sua obra viria assim que se fechasse para balanço. E foi desse jeito. Quem conhecia a obra de Sampaio, vibrou; quem desconhecia, se vislumbrou.
Não sou aquele que disse. Era evidente um pedaço de emoção nos labirintos negros dos olhos de cada espectador. Maiúsculo, também, foi Hélio Sampaio - irmão do homenageado - que não sabia o que fazer com tantas recordações. Sentava, levantava, cantava e soltava adjetivos acorrentados por neurônios na cabeça de alguns, que, logo, viam suas palavras imaginárias anistiadas.
Sinceramente, a cantora cachoeirense Amélia também deu um show à parte. Provocou terremotos no tecido dos braços de muitos ao interpretar, com delicadeza, a canção Real Beleza. O mais novo orgulho cultural de Cachoeiro, não adianta. Aroldo Sampaio também foi cruel, de posse do violão, ao tocar Viajei de Trem.
Enfim, repito que tem que acontecer mais eventos do tipo. Enquanto a esse, parabenizo o produtor e músico João Moraes, responsável pelo espetáculo e pelo livro "Eu Sou Aquele que Disse", e ao secretário de Cultura, José Carlos Dias, que abraçou a idéia.
Não posso deixar de registrar que a segunda-feira seria perfeita caso não tivesse ocorrido o falecimento do biógrafo Marco Antonio de Carvalho. Uma notícia que entristeceu a muitos cachoeirenses. Marco finalizava a biografia de Rubem Braga e produziria a 2ª Bienal, marcada para maio de 2008.
terça-feira, 6 de maio de 2008
Enfim
Nem desejo as vinte e quatro horas.
Morreria. Juro. É irreal para o seu cardápio
Diário tudo o que consumo.
Morreria. Juro. É irreal para o seu cardápio
Diário tudo o que consumo.
Difícil a digestão, avesso ao paladar.
Por apenas segundos quaisquer
Você sentira a batida descompassada,
O ir sem retorno de garantias,
A queda de quem está na base sólida do poço,
O piscar trêmulo de olhos com uma única direção.
Você sentira a batida descompassada,
O ir sem retorno de garantias,
A queda de quem está na base sólida do poço,
O piscar trêmulo de olhos com uma única direção.
Sentiria o temor, a alegria, a saudade.
Enfim, veria o quanto samba em cima de um coração.
Enfim, veria o quanto samba em cima de um coração.
Vaga doação
Uma flecha sem alvo. Corta o vazio em busca do nada. O veneno em sua ponta lhe aproxima da morte e esquece a vida no arco.
Partir, sabendo que o fim recomeça no extremo. Que o abismo é a queda das próprias ilusões. Que o chão, ou o mar ou o colchão são bases de quem possui a certeza. Eu nunca a tive, e imagino que nunca a dei. Mesmo tentando.
Mulher não quer a solidez de algo que sempre viu como abstrato. Nem que lhe tire a abstração das coisas mais concretas do mundo. Deseja a fantasia de um ser e de um fato. Prefere o engano que a leve até a verdade feita por mil mentiras. Crê no pecado, mesmo ajoelhada aos pés do altar.
Que me perdoem as que não assumem tal declaração. Que me aceitem em passeata, em carnaval, em transe, nos seus momentos, nem raros, de exaltação à loucura.
Que me deixem dormir em teus seios, quando cansado pelo castigo após tentar desvendar o mistério absurdo da costela masculina.
Que me permitem repetir a dose para confirmar sua vulnerabilidade diante do anúncio do orgasmo.
Que tentem trancar as portas ao me ver invadindo seu êxtase. Até entregarem seus pontos, sua força e o respeito forjado a si mesma.
Madrugada
Ela me chama
Juro que tento
Não me controlo
Atendo a todos os seus pedidos
Sirvo-me de sua bandeja
Farta, fraca, vulgar e atraente
Objeto que reflete a lua
Momento que anuncia o sol
Fico inerte
Com um olho na paixão
E o outro no amor
Não me decido
Próximo dia, sentimentos retornam
Na mesma ou com mais intensidade
Assim é ela
Silenciosa e escandalosa
Alegre e tensa
Aí fico eu
Sem saber
Sem ir
Sem vir
Sem ser
Mesmo sendo
Uma parte da madrugada.
Juro que tento
Não me controlo
Atendo a todos os seus pedidos
Sirvo-me de sua bandeja
Farta, fraca, vulgar e atraente
Objeto que reflete a lua
Momento que anuncia o sol
Fico inerte
Com um olho na paixão
E o outro no amor
Não me decido
Próximo dia, sentimentos retornam
Na mesma ou com mais intensidade
Assim é ela
Silenciosa e escandalosa
Alegre e tensa
Aí fico eu
Sem saber
Sem ir
Sem vir
Sem ser
Mesmo sendo
Uma parte da madrugada.
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