sexta-feira, 27 de junho de 2008

Perseverança

A mudança de vida está fielmente associada ao sofrimento. É necessário sofrer, com fé nas suas conseqüências, para atingir o patamar almejado. Continuar alçando vôos com sucesso é o que todos querem. Porém, chega o momento de se isolar, sentir a hidratação das lágrimas na pele, o aperto acolhedor no coração e a sensação mística de resquícios de sentimentos que preenche e esvazia o peito. Curtir, com a alegria em stand by, toda a tristeza que contorna o céu de nossa vida.

Percebi que uma das tarefas mais difíceis é fazer desaparecer aquilo que um dia prestou. Não é o mesmo que ‘cuspir no prato que comeu’. É, exatamente, fazer que evapore o grande bem que não faz mais bem. Ser um agente da ebulição das pequenas grandes coisas da vida que se tornaram apenas pequenas, e nocivas.

Em meio a toda essa fumaça desanimadora é que nasce a esperança. Por isso, é preciso ter força, garra. Reconhecer o que merecemos e o que não pode nos pertencer. Com um pensamento óbvio e simples, identificamos que não merecemos ter a estima atacada e vencida.

Sentimos ainda que merecemos a felicidade, a mesma de deitar numa pedra ao som da orquestra divina de uma cachoeira. Mesma felicidade, também, de fechar os olhos e sentir o toque carinhoso da pessoa amada. Igual a de ver uma criança gargalhando ou de saber que uma sua está prestes a nascer.

Ao saber de tudo que a vida ainda tem a me ofertar, começo a me limpar da tristeza. Banho-me em algum sorriso grátis, porém riquíssimo, que desabrocha em qualquer canto desta extensão de terra. Aos poucos, vai saindo da alma todo o peso, todos os fragmentos de vida antiga, que não têm razão de nos pertencer mais.

Olho o céu e abro as asas. Quero sentir a vida no rosto, como se eu enfrentasse uma grande ventania. Quero novas turbulências e marasmos. Quero nuvens novas e tudo o que há de novo. Sei que para trás ficou parte de mim. No entanto, estou certo de que o que ficou para trás foi o que não passou na peneira do meu coração. Só me resta, agora, voar.

2 comentários:

Um oráculo divino ambulante disse...

Muito bom, parabéns Leandro!
Im abraço, Manoel Manhães

Renata Mofatti disse...

"Fazer desaparecer aquilo que um dia prestou". Realmente, dar adeus ao que valeu a pena é um grande e insensato dilema!

Parabéns!